O vereador Tico Costa (PP) entrou hoje (02/10), junto à Mesa da
Câmara, com um requerimento pedindo informações à Prefeitura
Municipal sobre o cumprimento do Decreto 16.912, de 17 de dezembro de
2009, em vigência, que dispõe sobre a execução do Programa de
Inserção de Egressos do Sistema Penitenciário no Mercado de
Trabalho (Proegresso Campinas). Pelo programa, órgãos da
Administração Direta e entidades ligadas à Administração
Indireta, nos editais voltados à licitar obras e serviços, podem
exigir vagas de trabalho aos beneficiários do mesmo. Neste caso, 5%
das vagas para um contingente mínimo de 20 trabalhadores e uma vaga
quando o total de trabalhadores contratados na terceirização esteja
entre seis e 20 vagas deveriam ser de egressos do sistema carcerário.
“O que vemos é que muitos ex-presidiários, quando conseguem sua
liberdade, esbarram na impossibilidade de obter uma vaga de trabalho
no mercado formal – justamente por serem egressos do sistema
carcerário. Fica um estigma neles, uma marca quase indelével. Sem
essa possibilidade de reinserção da sociedade, muitos voltam ao
mundo do crime. Logo, se há no nosso município uma lei em vigência
que pode minimizar este quadro, por quê ela não é cumprida?” -
questiona o vereador.
A questão surgiu hoje, após uma visita que Tico Costa fez, junto
com o secretário municipal de Trabalho e Renda, Jairson Canário, ao
Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente Jequitibá - Casa
Jequitibá, no Jardim São Vicente. Os dois foram ao local para
tentar viabilizar junto ao órgão programas de treinamento e
capacitação profissional para os internos da instituição, além
daqueles que já são desenvolvidos como oficinas
profissionalizantes, dentro da Fundação Casa, com o apoio do
Instituto Paula Souza. Além disso, no caso dos ex-internos, haveria
também a possibilidade de inclusão no Proegresso Campinas,
principalmente àqueles maiores de 16 anos e que deixaram a
instituição.
Atualmente, a Casa Jequitibá, com capacidade para 72 infratores, tem
81 internos. O número maior é amparado em decisão da Justiça de
ampliar em até 15% a capacidade de internação das unidades
estaduais por causa da demanda ampliada. A maior parte permanece no
local em média de 9 meses a um ano, mas há casos de reincidentes
onde este prazo é maior, podendo chegar a três anos. Os internos
têm entre 12 e 21 anos, com maior incidência de menores na
Jequitibá entre os 15 e 16 anos. No Estado de São Paulo há cerca
de 9,5 mil internos em todas as unidades da Fundação Casa.
AÇÕES DA PREFEITURA
Segundo o secretário de Trabalho e Renda, Jairson Canário, há
diversas possibilidades de se integrar o menor e adolescente que saem
da Fundação Casa, assim como viabilizar uma renda às suas
famílias. Canário lembrou o programa federal do Microempreendedor
Individual (MEI), onde a pessoa que trabalha por conta própria pode
se legalizar como pequeno empresário e obter apoio financeiro para o
seu negócio. Além disso, há cursos diversos desenvolvidos pela sua
Secretaria e que se adaptam às necessidades do interno da Fundação
Casa, havendo apenas que se adaptar os horários na rotina diária da
Casa Jequitibá (como aulas e oficinas de trabalho internas) e
locomoção até as unidades onde ocorrem os cursos do Programa
Nacional de acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Nesse
caso, jovens cumprindo medidas socioeducativas estão como
público-alvo. Há ainda o Centro Público de Apoio ao Trabalhador
(Cepat), para encaminhamento ao mercado de trabalho.
Para o diretor da Casa Jequitibá, Fabiano Paina, é necessário se
quebrar a realidade dos ex-internos e mesmo dos egressos do sistema
carcerário. “A dificuldade para um ex-interno obter uma vaga no
mercado de trabalho é imensa. Há o estigma que o acompanha. Para
muitos empregadores eles são vistos e rotulados como ex-Febem, nem
ex-Fundação Casa. Por isso vemos, no Estado, uma reincidência em
torno de 12% a 13%. Mas, como alguns dos internos saem com mais de 18
anos, eles não entram nessas estatísticas por que são
encaminhados, em caso de reincidência, ao Centro de Detenção
Provisória (CDP). Temos ainda aqueles que morrem durante uma ação
no crime”, diz Paina. Segundo o diretor da Casa Jequitibá, o
estigma é tão grande que há a dificuldade até em se obter uma
vaga formal para os menores e adolescentes em escolas municipais e
estaduais. As unidades educacionais normalmente recusam a inscrição
de ex-internos.
Se a Prefeitura e a Administração Indireta adotarem o Proegresso,
por exemplo, uma porta poderia ser aberta, além de uma maior
participação da Secretaria de Trabalho e Renda junto aos
ex-internos, ex-presidiários e suas famílias. “Vemos aqui que
muitos de nossos adolescentes buscam todos os documentos legais e
formas de estudo, entregam currículos, tentam se enquadrar mas não
são aceitos na quase totalidade. Daí você tem o crime organizado
que lhes dá opção de renda muitas vezes maior do que um salário
mínimo. Ou seja, é um ciclo vicioso que tem de ser quebrado”, diz
Paina.
Para ele, é preciso buscar e mostrar que há saídas, pois muitos
internos mostram qualidades diversas nos cursos hoje aplicados na
unidade. Muitos descobrem na jardinagem e pintura opções. Falta
lhes dar oportunidades. Como afirmou uma funcionária da Casa
Jequitibá na reunião: “Os meninos quando saem daqui parecem que
são uns ETs para a sociedade, que não os reconhece e nem lhes dá uma
chance de recuperarem suas vidas”. A primeira reunião de
representantes da Secretaria de Trabalho e Renda na Casa Jequitibá
com os internos e seus familiares, para mostrar projetos e programas
possíveis, ficou marcada para o próximo dia 25, às 14h. Essa
unidade será piloto na tentativa de resgate dos jovens.
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