Uma realidade de desestruturação da Polícia Civil no Estado de São Paulo, onde de cada 100 boletins de ocorrência que chegam aos distritos policiais, apenas cerca de 14% se transformam em inquérito policial e, desses investigados, somente cerca de 7% chegam ao seu final com sucesso. Com esta declaração, Aparecido Lima de Carvalho, presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Região de Campinas (Sinpol) e da Federação Interestadual dos Trabalhadores Policiais Civis da Região Sudeste (Feipol/SE), foi hoje ao programa Câmara em Debate, na TV Câmara, para relatar a crise na instituição.
Sob o comando da
jornalista Mirna Abreu, o programa teve a participação dos
vereadores Tico Costa (PP), presidente da Comissão para os Assuntos
de Segurança Pública, e Pastor Elias Azevedo (PSB), membro da
Comissão. “A realidade de apenas 7% dos inquéritos instaurados
chegarem a termo mostra o tamanho do problema que temos de resolver
na questão da restruturação da Polícia Civil”, afirma o presidente do Sinpol. “Mostra, com evidência, a falta de estrutura e condições
de trabalho. Há carência de viaturas, homens preparados e treinados
rotineiramente, aparelhos de escuta, tecnologia de ponta, com
software moderno, efetivo e tempo de investigação. Infelizmente,
hoje, em muitos casos, a mídia é que dá o tom do que vai ser
investigado. Ou seja, a polícia acaba dedicando o seu tempo ao crime
que repercute na mídia. E não poderia ser assim”, diz Carvalho.
“O que nós vemos
agora é que temos quase metade do efetivo que tínhamos há 15 anos.
E não podemos aceitar o desmonte da Polícia Civil que vem sendo
colocado pelo governo estadual”, afirma Carvalho. Para ele, a
promessa do governador Geraldo Alckmin (PSDB), feita hoje em
Campinas, durante solenidade para a criação da 2ª Delegacia
Seccional no município - de que haverá a contratação de mais
1.853 homens para a polícia científica e novos 2.805 cargos para a
polícia civil no Estado -, não cobre as necessidades. “Hoje há
um déficit de 8 mil policiais no Estado, logo essa promessa não
supre as necessidades. No caso da nova Seccional, por exemplo, como
criarmos uma nova estrutura se temos a falta de pelo menos 250 homens
em Campinas?” - questiona. De acordo com ele, “o
desaparelhamento da polícia leva à impunidade do criminoso e deixa
o crime agir livre nas ruas”.
GREVE BRANCA
Para Carvalho, o
movimento que a Polícia Civil tem feito nos últimos meses, de
paralisações pontuais, é para garantir melhores condições de
trabalho e salários à categoria. “Mas não é apenas para os
policiais. É para a sociedade como um todo, para que possamos dar
respostas à ela, com um trabalho muito melhor. Não aceitamos o
desmonte de uma instituição centenária. Sabemos que há a Lei de
Responsabilidade Fiscal e a questão do Orçamento, mas sabemos
também que há sobra de caixa no Estado. O que pedimos é tão
somente que haja negociação para chegarmos a um consenso”.
Segundo o presidente do
Sinpol, “precisaríamos ter um reajuste de ao menos 100% para
cobrir todas as perdas, mas podemos negociar esses número. Dá-se
uma parte agora e se paga o restante em cinco, dez anos, parcelado.
Mas que haja a negociação, vontade política do governo. O que não
podemos é aceitar que policiais ofereçam as suas vidas e de seus
familiares por um salário de fome, onde os reajustes se dão apenas
sobre o salário base, que é cerca de 1/3 do que recebemos no final
do mês. Chega de penduricalhos no salário que serão perdidos na
aposentadoria”.
Diante do quadro
caótico da Polícia Civil, onde dos 100 escrivães que existem em
Campinas, por exemplo, apenas 47 deles estão efetivamente em
inquéritos policiais – o restante está em área administrativa -,
o presidente do Sinpol vê apenas um movimento mais radical como saída.
“Queremos ser ouvidos e poder negociar. Caso contrário, vamos à
greve branca, em estado de greve.” Ele lembrou ainda o nível de
estresse que vive o policial no seu dia a dia, sem avaliações
físicas e psicológicas do profissional por parte do Estado, e da
excessiva burocracia existente, com “papeladas intermináveis”
que levam à um entrave de investigações.
Diante do quadro, para
os vereadores Tico Costa e Pastor Elias Azevedo, o apoio da Comissão
para os Assuntos de Segurança Pública é total. “Hoje, com o
crime se especializando e se fortalecendo cada vez mais, vemos a
Polícia Civil na contramão. E isso não se dá por culpa dos
policiais. Por isso pregamos e apoiamos uma restruturação total da
instituição”, afirmou Tico Costa. O vereador e presidente da
Comissão reiterou a apresentação de uma moção, a ser lida na
sessão de hoje e enviada ao governador do Estado e ao secretário
estadual de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira,
reivindicando melhorias para a Polícia Civil - tanto para a questão
salarial como o reaparelhamento e melhores condições de trabalho.
“Temos hoje debatido muito o apoio às revindicações da Guarda
Municipal e da Polícia Militar, no caso das carências do Corpo de
Bombeiros, por isso não podemos nos furtar aos problemas vividos
pela Polícia Civil. Afinal, é a questão da segurança de todos nós
que está em jogo. Uma polícia forte pressupõe uma sociedade melhor
protegida”, disse Tico Costa.
(Foto: Lucas Leite/Assessoria de Imprensa da Câmara Municipal de Campinas)
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