Criar um fórum permanente de discussão que reúna e integre
as polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal e Guarda Municipal,
além de representantes do setor empresarial, como seguradoras, transportadoras
e de segurança armada, para se combater com medidas conjuntas o roubo de cargas
na região. Essa foi uma das decisões tomadas hoje durante o encontro da
Comissão Permanente para os Assuntos de Segurança Pública da Câmara Municipal.
Com esse grupo de debates, que teria reuniões mensais, se estabelecerá a linha
de combate ao crime organizado, com a troca contínua de informações dos setores
de inteligência e a criação de uma rede conjunta a partir da mancha criminal
nas rodovias da região. A ideia, que partiu do coronel Paulo Roberto de Souza,
assessor de segurança da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do
Estado de São Paulo (Fetcesp), teve o apoio do
secretário municipal de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública, Luiz
Augusto Baggio, e a primeira reunião para a sua efetivação deve acontecer até o
próximo mês.
“Certamente foi dado um passo importante para a integração
no combate ao roubo de cargas na região. Só com um trabalho conjunto de todas
as forças de segurança poderemos ter um quadro efetivo de redução neste tipo de
ação criminosa”, afirmou o vereador Tico Costa (SD), que presidiu a reunião.
Além do fórum de discussão, ficou decidido que a comissão irá encaminhar às
empresas concessionárias das rodovias da região uma moção para que todos os
“pontos cegos” das principais estradas sejam cobertos de sistema de
monitoramento por câmeras e tenham sinal permanente de celulares – o que
reduziria os locais que as quadrilhas utilizam para os roubos.
Nessa mesma linha, o secretário Luiz Augusto Baggio
enfatizou a necessidade de se expandir o monitoramento por câmeras na região e
no município. Atualmente, parte
dos equipamentos externos e softwares utilizados pelo CIMCamp estão
obsoletos, o que prejudica o real funcionamento do órgão numa integração regional. Por isso, a necessidade de se obter câmeras que
estejam em condições de adotar um software que adote o Intelligent
Video Analisys (IVA), sistema
especificamente desenvolvido para a segurança de metrópoles, com tecnologia
para reconhecimento de faces e leitura de placas de veículos, entre outras
capacitações. Este sistema já está adotado em municípios da
região, como Indaiatuba.
Baggio, entretanto, não deu um prazo para a efetivação dessa
compra. Contudo, deixou claro que o plano para sua adoção está em curso. “Pretendemos ampliar a troca de informações
com outras Guardas Municipais da região metropolitana sobre veículos suspeitos,
por exemplo, monitorá-los. E vamos ampliar também em Campinas esse sistema. Já
conversamos com a concessionária do Aeroporto de Viracopos (que tem 10 mil toneladas de cargas por mês) para que as suas câmeras estejam envolvidas no
programa, assim como as dos shoppings. Essa integração de informações irá
monitorar, por exemplo, a dinâmica de veículos que participam das ações
criminosas. Afinal, sabemos que muitas vezes esses roubos de cargas são
encomendados, planejados anteriormente. É só seguirmos os veículos suspeitos”,
diz o secretário.
PROJETO CONTRA A RECEPTAÇÃO
Outra medida que a comissão da Câmara adotará é a elaboração
de um projeto de lei para que o alvará de empresas que façam parte de um
esquema de receptação de cargas roubadas seja cassado pela Prefeitura, com o
fechamento do comércio. Na reunião, a discussão sobre a importância de se
combater os receptadores – que são aqueles que compram as cargas roubadas e
mantêm o esquema em funcionamento – foi considerado prioridade. “Infelizmente,
muitas vezes o receptador é um grande comerciante estabelecido, que compra
mercadorias de forma legal e com nota fiscal para a sua empresa, mas por causa
da ganância também adquire cargas roubadas. Ele é o grande pivô do esquema, não
o camelô que também, em alguns casos, a revende”, enfatizou o coronel Paulo
Roberto de Souza.
Por isso se discutiu a necessidade de adoção de um regime de
leis mais duras, já que hoje o receptador e aquele envolvido no roubo de cargas
não ficam presos. “Nosso Código Penal é de 1.940. É de uma época em que o crime
organizado sequer existia. Quem é preso por receptação pega uma pena de um a
quatro anos e não fica detido, porque crimes até quatro anos são considerados
brandos. O sujeito vai à delegacia, paga fiança e vai para casa. E volta a
agir. Sem combater isso, não para o crime”, diz o coronel Paulo Roberto de
Souza.
Segundo dados da Fetcesp, em 2.014 foram cerca de 17,5 mil
casos de roubos de cargas no País, que geraram prejuízos de cerca de R$ 1
bilhão. São Paulo representa, como unidade da Federação, 48% do total desses crimes.
Em 2.014 foram 8.510 casos. E este ano, no primeiro trimestre, já foram 3.133.
“Se houver a manutenção de um quadro como o do ano passado, devemos ter um
acréscimo de 9% até dezembro. E na região de Campinas temos a presença visível
do crime organizado, com grupos fortemente armados e com alvo definido, que são
as cargas de maior valor agregado. Campinas, infelizmente, paga pela sua
pujança econômica, por ter um aeroporto internacional de cargas, estradas e
rodovias importantes no tráfego das mesmas”, explica o assessor do Fetcesp.
REDUÇÃO NOS DADOS DA PM E DA CIVIL
Os números oficiais dos órgãos de segurança do Estado,
porém, mostram um quadro diferente. Segundo o comandante do 4º Batalhão de
Policiamento Rodoviário, Lourival da Silva Júnior, que cuida de 45 rodovias
entre Campinas, Jundiaí e Piracicaba, até a divisa com Minas Gerais, o número
de roubos de cargas tem diminuído. “O roubo de cargas é dinâmico, mas há pontos
e horários mais corriqueiros, como ao entardecer e até às 21h, quando as
rodovias estão cheias de veículos e há uma redução da visibilidade. E é neles
que estamos agindo. No ano passado, prendemos 50 pessoas ligadas a furtos,
roubos de cargas e receptação destas e dos caminhões. Mas boa parte fica livre
no mesmo dia. Paga uma fiança de R$ 780,00 e sai. Mas, em 2.014, conseguimos
reduzir em 22,3% o número de roubos. Eles caíram de 677, em 2.013, para 526 em
2.014. Este ano já prendemos 29 pessoas ligadas a este tipo de crime, com 91
casos de roubos no primeiro trimestre”, diz o policial militar rodoviário.
Para ele, porém, a questão de se combater a receptação é
prioritária. “A receptação é que dá vazão a esse tipo de crime. Num dos casos,
nossas equipes fizeram a prisão de um grupo com uma carga de carnes roubada.
Mas, logo depois, chegou um empresário que tentou liberá-los. E acabou sendo
preso também. Esse é o problema que devemos atacar: o foco de tudo, quem
compra”, enfatiza o comandante Lourival da Silva Júnior.
Segundo a Polícia Civil, os números também mostram que
Campinas estaria na contramão do roubo de cargas. Para o delegado Luís
Segantin, do Deinter-2, no primeiro quadrimestre de 2.014 foram 136 roubos de
cargas em Campinas. Já este ano, no mesmo período, eles são 88. “Em 2.015 já
foram cerca de 40 criminosos detidos pelo Deinter-2 envolvidos no roubo de
cargas. As nossas DIGs têm trabalhado nos casos. Mas Campinas é um ponto
nevrálgico nessa questão, por causa de suas rodovias que são muitas, onde
produtos de tecnologia de ponta, valiosos, estão em trânsito. O importante é
enfatizarmos um trabalho em conjunto”, explica o delegado.
“Para o vereador Tico Costa, que preside a Comissão da
Câmara, mais um passo importante foi dado na busca ao combate ao roubo de
cargas. “De um lado temos um grupo de quadrilhas fortemente armadas, com fuzis
e táticas de guerrilha. Do outro, as forças policiais com os recursos que têm.
Logo, só com essa integração e troca de informações é que poderemos criar uma
estratégia de combate que reverta o quadro”, diz o parlamentar. Além dele,
participaram da reunião os vereadores Carlão do PT e Jairson Canário (SD). Da
mesa ainda fez parte o vice-presidente do Sindicato das Empresas de
Escolta do Estado de São Paulo (Semeesp), Paulo Rogério Rizo.
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