quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Região de Campinas lidera roubo de cargas no País. Tico tem projeto de lei para o combate ao crime

De cada 10 roubos de carga que acontecem por dia no Brasil, oito são na região de Campinas. Em 2012, segundo a Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo (Fetcesp), foram realizados 14.400 roubos no País, num total aproximado de R$ 963 milhões de prejuízos. Desse total, 51% aconteceram em São Paulo – sendo a quase totalidade num eixo de 150 quilômetros da Capital. Ou seja, nas rodovias que cortam a região de Campinas. Dessa forma, é aqui que o crime se dá com maior força no Brasil, na maior parte das vezes graças a quadrilhas ligadas ao crime organizado – o chamado crime estruturado – que visa cargas com valores acima de R$ 100 mil. Uma realidade que deixou a nossa região com o título de “Triângulo das Bermudas” (formado por Campinas-Hortolândia-Sumaré), onde o caminhão e a carga conseguem desaparecer do mapa em poucos minutos.
Com esse quadro, exposto hoje na reunião da Comissão para os Assuntos de Segurança Pública, vereadores e especialistas chegaram à conclusão que sem a união efetiva das forças de segurança e todos setores atingidos, além de uma repressão sistemática aos receptadores tanto dos veículos, para a revenda de peças, como das cargas em si, o quadro pouco reverterá. “Há quatro anos, o 'Triângulo das Bermudas' no roubo de cargas era o Triângulo Mineiro, com as quadrilhas abordando os caminhões que vinham principalmente do Amazonas para fazer entregas no Sudeste. Entretanto, uma ação de combate da Polícia Federal, que montou bases nas principais rodovias mineiras, parou praticamente o crime por lá. E esse migrou para a região de Campinas, onde cargas de eletroeletrônicos e de remédios circulam em grande quantidade. O ladrão não é burro: vai para onde o dinheiro está”, afirmou o assessor de segurança da Fetcesp, o coronel da reserva do Exército, Paulo Roberto de Souza.
Ele explicou que os crimes de oportunidade a cargas – aqueles que visam carregamentos de até R$ 30 mil – têm como ponto central a Capital paulista e proximidades, realizados por ladrões geralmente sem ligações com o crime organizado. O problema é que em Campinas e Região a incidência é de grupos ligados ao crime dito estruturado, com quadrilhas especializadas. “Vimos, no ano passado, um roubo que juntou 15 veículos para cercar um caminhão. Logo, a resposta do governo estadual está aquém do esperado, apesar dos esforços das forças de segurança”, diz o coronel Souza. 

POLÍCIA RODOVIÁRIA
Para o capitão Hugo Maeda, da Polícia Rodoviária Estadual, a situação é grave, mas está sendo combatida. Segundo dados apresentados pelo militar, em 2013 foram 128 roubos de carga na região. Desses, em 47 casos se levou apenas os carregamentos. Nos outros, os veículos também foram roubados. “Nesse segundo caso, os caminhões foram levados para abastecerem o mercado negro de peças usadas. Quase sempre o alvo é os veículos. A carga, por vezes, vai como lucro ou é até descartada. Além disso, há o roubo também contra carros pequenos, como uma Fiorino, onde pode estar uma carga de até R$ 4 milhões em celulares”, afirma Maeda.
Segundo o capitão, o que interfere no sucesso das ações criminosas é que as quadrilhas têm informações antecipadas do alvo a ser atacado, enquanto a PM não sabe sequer do horário da saída do carregamento da fábrica. “Como pode um veículo pequeno, sem escolta particular, sem nada que o diferencie de um comum, sem logomarca da fábrica, ser atacado num local específico por bandidos? É claro que as quadrilhas têm informações privilegiadas da carga, horário e trajeto. Com informações saídas do interior da fábrica ou de um membro ligado ao esquema. E aí fica mais difícil o combate” - explica o militar. Maeda, contudo, faz questão de enfatizar que há um índice alto de recuperação: “O gerente de risco da LG, que tem dados internos sobre os roubos, me disse que hoje o índice de recuperação de cargas na empresa gira em torno de 70% a 80%”. 
ESCOLTA DOS CARREGAMENTOS
Mas, para se chegar a números de recuperação como esses, há toda uma logística por trás que termina por influenciar no preço final do carregamento. Como explica o representante do Sindicato das Empresas de Escolta de São Paulo (Semeesp), Paulo Rogério Rizo. “O roubo de cargas acaba afastando mão de obra especializada, por que o funcionário das empresas de segurança, quando roubado, muitas vezes desiste da função, fica traumatizado. Há ainda o roubo das armas e coletes desses profissionais, que muitas vezes são agredidos. Daí, para você melhorar a logística de apoio ao transporte de carga, tem que investir pesado em rastreadores por satélite, investir em tecnologia. E isso leva a um aumento do preço da escolta, o que influencia no preço final do frete e, por conseguinte, do produto. Estima-se que tenham sido gastos cerca de R$ 6 bilhões em segurança por parte das empresas de transporte em todo o País em 2013”. Atualmente, o custo com segurança gira entre 12% a 15% do preço final do faturamento de uma empresa. O que é repassado ao custo final, pago pelo consumidor.
Mas o grande problema, segundo Rizo, é que, por causa do preço das escoltas especializadas, com inscrição na Polícia Federal e treinamento de pessoal, muitas indústrias optam em contratar serviços de empresas clandestinas de segurança. “Quando se contrata um pessoal desqualificado e sem preparo, risco é de você levar um pessoal que pode estar ligado ao crime. Além disso, num roubo recente, uma indústria deixou de receber o seguro por estar com uma escolta de uma empresa que não tinha o aval da Polícia Federal”, explica Rizo.
O capitão da Polícia Militar Paulo Henrique Rosas, do 1º Baep, concorda com o representante do Semeesp. “A conclusão a que chegamos é óbvia: “as quadrilhas têm informações privilegiadas e muitas vezes as ações se dão de forma idêntica, nos mesmos pontos. Na verdade, chegamos a ver imagens de um roubo em dezembro último onde um caminhão parou antes mesmo da quadrilha anunciar o assalto. Ou seja, é preciso que as empresas contratantes saibam quem estão levando para fazer a escolta de suas cargas.”

FIM DA RECEPTAÇÃO
Mas, para o capitão rodoviário Rosas, outro ponto importante para se interromper a escalada do roubo de cargas está em se atacar o receptador final. “Só existe o roubo por que há o receptador. Enquanto não combatermos essa realidade, não interromperemos o ciclo.” Igual opinião tem o assessor de segurança da Fetcesp, Paulo Roberto de Souza: “Há quatro níveis numa quadrilha de roubo de cargas. O primeiro é o indivíduo que faz a ação, normalmente contratado para isso por um valor 'x'. Depois temos o elo, que é aquele que faz o contato com quem fará a ação. É o que paga pelo 'trabalho'. Em terceiro, vem aquele que atravessa com a carga de um lado para o outro. Que serve para despistar. Por fim, o mais importante, que é o receptador. É ele que esconde e distribui a carga roubada.”
Para o coronel da reserva, esse último só será erradicado se tirarem dele o seu dinheiro. “Só se o deixarmos sem capital ele não agirá. Para isso, é preciso que haja leis onde o receptador tenha de devolver aquilo que roubou e que se extinga sua empresa de fachada. Além disso, o seu isolamento da sociedade, com a sua retirada de poder de articulação criminosa, preso em local de regime diferenciado, é essencial.” Um código penal onde se amplie a pena por roubo e receptação de cargas também é imprescindível no combate ao crime.


SAÍDAS PARA O PROBLEMA
No caso do combate à receptação, o vereador Tico Costa (SDD), presidente da Comissão para os Assuntos e Segurança Pública, tem um projeto de lei tramitando na Câmara. Nele, todos os proprietários de galpões, depósitos e armazéns em Campinas quando forem alugar suas edificações ficam obrigados de enviar à Prefeitura uma notificação com informações do inquilino, localização do imóvel e atividades que serão desenvolvidas no local. Dessa forma, haverá o controle do local e a possibilidade de fiscalização, além do reenvio dos dados às polícias Civil e Militar, já que as quadrilhas usam esses galpões para guardar as cargas roubadas ou utilizá-lo como ponto de desmanche de veículos. Para Tico, essa fiscalização capacitará também a Prefeitura a aplicar sanções e multas ao uso indevido dos galpões e barracões. “Acho que nós, na esfera municipal, podemos ajudar a polícia no combate ao crime restringindo pontos que as quadrilhas utilizam como distribuição”, enfatiza.
Outra decisão que foi tomada na reunião foi a do envio de duas moções da Câmara. Uma ao governo do Estado pedindo um maior efetivo para a PM na cidade, assim como a manutenção e ampliação de programas de combate à criminalidade nas estradas, como o Procarga – de prevenção e redução de furtos, roubos, apropriação indébita e receptação de carga. A outra moção será enviada ao governo federal e à Câmara Federal para pedir ampliação de pena para os casos de roubo e receptação de cargas. Junto com Tico participaram da reunião os vereadores André von Zuben (PPS) e Carlão do PT.
(Fotos: Assessoria de Imprensa do vereador André von Zuben/PPS)

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