Com
esse quadro, exposto hoje na reunião da Comissão para os Assuntos
de Segurança Pública, vereadores e especialistas chegaram à
conclusão que sem a união efetiva das forças de segurança e
todos setores atingidos, além de uma repressão sistemática aos
receptadores tanto dos veículos, para a revenda de peças, como das
cargas em si, o quadro pouco reverterá. “Há quatro anos, o
'Triângulo das Bermudas' no roubo de cargas era o Triângulo
Mineiro, com as quadrilhas abordando os caminhões que vinham
principalmente do Amazonas para fazer entregas no Sudeste.
Entretanto, uma ação de combate da Polícia Federal, que montou
bases nas principais rodovias mineiras, parou praticamente o crime
por lá. E esse migrou para a região de Campinas, onde cargas de
eletroeletrônicos e de remédios circulam em grande quantidade. O
ladrão não é burro: vai para onde o dinheiro está”, afirmou o
assessor de segurança da Fetcesp, o coronel da reserva do Exército,
Paulo Roberto de Souza.
Ele
explicou que os crimes de oportunidade a cargas – aqueles que visam
carregamentos de até R$ 30 mil – têm como ponto central a Capital
paulista e proximidades, realizados por ladrões geralmente sem
ligações com o crime organizado. O problema é que em Campinas e
Região a incidência é de grupos ligados ao crime dito estruturado,
com quadrilhas especializadas. “Vimos, no ano passado, um roubo que
juntou 15 veículos para cercar um caminhão. Logo, a resposta do
governo estadual está aquém do esperado, apesar dos esforços das
forças de segurança”, diz o coronel Souza.
POLÍCIA
RODOVIÁRIA
Para
o capitão Hugo Maeda, da Polícia Rodoviária Estadual, a situação
é grave, mas está sendo combatida. Segundo dados apresentados pelo
militar, em 2013 foram 128 roubos de carga na região. Desses, em 47
casos se levou apenas os carregamentos. Nos outros, os veículos
também foram roubados. “Nesse segundo caso, os caminhões foram
levados para abastecerem o mercado negro de peças usadas. Quase
sempre o alvo é os veículos. A carga, por vezes, vai como lucro ou
é até descartada. Além disso, há o roubo também contra carros
pequenos, como uma Fiorino, onde pode estar uma carga de até R$ 4
milhões em celulares”, afirma Maeda.
Segundo
o capitão, o que interfere no sucesso das ações criminosas é que
as quadrilhas têm informações antecipadas do alvo a ser atacado,
enquanto a PM não sabe sequer do horário da saída do carregamento
da fábrica. “Como pode um veículo pequeno, sem escolta
particular, sem nada que o diferencie de um comum, sem logomarca da
fábrica, ser atacado num local específico por bandidos? É claro
que as quadrilhas têm informações privilegiadas da carga, horário
e trajeto. Com informações saídas do interior da fábrica ou de um
membro ligado ao esquema. E aí fica mais difícil o combate” -
explica o militar. Maeda, contudo, faz questão de enfatizar que há
um índice alto de recuperação: “O gerente de risco da LG, que
tem dados internos sobre os roubos, me disse que hoje o índice de
recuperação de cargas na empresa gira em torno de 70% a 80%”.
ESCOLTA
DOS CARREGAMENTOS
Mas,
para se chegar a números de recuperação como esses, há toda uma
logística por trás que termina por influenciar no preço final do
carregamento. Como explica o representante do Sindicato das Empresas
de Escolta de São Paulo
(Semeesp), Paulo Rogério Rizo. “O roubo de cargas acaba afastando
mão de obra especializada, por que o funcionário das empresas de
segurança, quando roubado, muitas vezes desiste da função, fica
traumatizado. Há ainda o roubo das armas e coletes desses
profissionais, que muitas vezes são agredidos. Daí, para você
melhorar a logística de apoio ao transporte de carga, tem que
investir pesado em rastreadores por satélite, investir em
tecnologia. E isso leva a um aumento do preço da escolta, o que
influencia no preço final do frete e, por conseguinte, do produto.
Estima-se que tenham sido gastos cerca de R$ 6 bilhões em segurança
por parte das empresas de transporte em todo o País em 2013”.
Atualmente, o custo com segurança gira entre 12% a 15% do preço
final do faturamento de uma empresa. O que é repassado ao custo
final, pago pelo consumidor.
Mas
o grande problema, segundo Rizo, é que, por causa do preço das
escoltas especializadas, com inscrição na Polícia Federal e
treinamento de pessoal, muitas indústrias optam em contratar
serviços de empresas clandestinas de segurança. “Quando se
contrata um pessoal desqualificado e sem preparo, risco é de você
levar um pessoal que pode estar ligado ao crime. Além disso, num
roubo recente, uma indústria deixou de receber o seguro por estar
com uma escolta de uma empresa que não tinha o aval da Polícia
Federal”, explica Rizo.
O
capitão da Polícia Militar Paulo Henrique Rosas, do 1º Baep,
concorda com o representante do Semeesp. “A conclusão a que
chegamos é óbvia: “as quadrilhas têm informações privilegiadas
e muitas vezes as ações se dão de forma idêntica, nos mesmos
pontos. Na verdade, chegamos a ver imagens de um roubo em dezembro
último onde um caminhão parou antes mesmo da quadrilha anunciar o
assalto. Ou seja, é preciso que as empresas contratantes saibam quem
estão levando para fazer a escolta de suas cargas.”
FIM DA RECEPTAÇÃO
Mas, para o capitão rodoviário Rosas, outro ponto importante para se interromper a escalada do roubo de cargas está em se atacar o receptador final. “Só existe o roubo por que há o receptador. Enquanto não combatermos essa realidade, não interromperemos o ciclo.” Igual opinião tem o assessor de segurança da Fetcesp, Paulo Roberto de Souza: “Há quatro níveis numa quadrilha de roubo de cargas. O primeiro é o indivíduo que faz a ação, normalmente contratado para isso por um valor 'x'. Depois temos o elo, que é aquele que faz o contato com quem fará a ação. É o que paga pelo 'trabalho'. Em terceiro, vem aquele que atravessa com a carga de um lado para o outro. Que serve para despistar. Por fim, o mais importante, que é o receptador. É ele que esconde e distribui a carga roubada.”
Mas, para o capitão rodoviário Rosas, outro ponto importante para se interromper a escalada do roubo de cargas está em se atacar o receptador final. “Só existe o roubo por que há o receptador. Enquanto não combatermos essa realidade, não interromperemos o ciclo.” Igual opinião tem o assessor de segurança da Fetcesp, Paulo Roberto de Souza: “Há quatro níveis numa quadrilha de roubo de cargas. O primeiro é o indivíduo que faz a ação, normalmente contratado para isso por um valor 'x'. Depois temos o elo, que é aquele que faz o contato com quem fará a ação. É o que paga pelo 'trabalho'. Em terceiro, vem aquele que atravessa com a carga de um lado para o outro. Que serve para despistar. Por fim, o mais importante, que é o receptador. É ele que esconde e distribui a carga roubada.”
Para
o coronel da reserva, esse último só será erradicado se tirarem
dele o seu dinheiro. “Só se o deixarmos sem capital ele não
agirá. Para isso, é preciso que haja leis onde o receptador tenha
de devolver aquilo que roubou e que se extinga sua empresa de
fachada. Além disso, o seu isolamento da sociedade, com a sua
retirada de poder de articulação criminosa, preso em local de
regime diferenciado, é essencial.” Um código penal onde se amplie
a pena por roubo e receptação de cargas também é imprescindível
no combate ao crime.
SAÍDAS PARA O PROBLEMA
No
caso do combate à receptação, o vereador Tico Costa (SDD),
presidente da Comissão para os Assuntos e Segurança Pública, tem
um projeto de lei tramitando na Câmara. Nele, todos os proprietários
de galpões, depósitos e armazéns em Campinas quando forem alugar
suas edificações ficam obrigados de enviar à Prefeitura uma
notificação com informações do inquilino, localização do imóvel
e atividades que serão desenvolvidas no local. Dessa forma, haverá
o controle do local e a possibilidade de fiscalização, além do
reenvio dos dados às polícias Civil e Militar, já que as
quadrilhas usam esses galpões para guardar as cargas roubadas ou
utilizá-lo como ponto de desmanche de veículos. Para Tico, essa
fiscalização capacitará também a Prefeitura a aplicar sanções e
multas ao uso indevido dos galpões e barracões. “Acho que nós,
na esfera municipal, podemos ajudar a polícia no combate ao crime
restringindo pontos que as quadrilhas utilizam como distribuição”,
enfatiza.
Outra
decisão que foi tomada na reunião foi a do envio de duas moções
da Câmara. Uma ao governo do Estado pedindo um maior efetivo para a
PM na cidade, assim como a manutenção e ampliação de programas de
combate à criminalidade nas estradas, como o Procarga – de
prevenção e redução de furtos, roubos, apropriação indébita e
receptação de carga. A outra moção será enviada ao governo
federal e à Câmara Federal para pedir ampliação de pena para os
casos de roubo e receptação de cargas. Junto com Tico participaram
da reunião os vereadores André von Zuben (PPS) e Carlão do PT.
(Fotos: Assessoria de Imprensa do vereador André von Zuben/PPS)
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