O
8º Campeonato de Futebol Amador, patrocinado pela Secretaria
Municipal de Esportes e Lazer, que terá a sua abertura no dia 14 de
setembro, no Estádio Moisés Lucarelli, quando haverá a disputa do
troféu Luciano do Valle, será o tubo de ensaio para tentar se
interromper a violência crescente contra a arbitragem. Ontem, num
plenário lotado da Câmara Municipal, árbitros, assistentes,
dirigentes e jogadores de futebol amador, além de jornalistas e
autoridades, participaram do lançamento da campanha que visa
minimizar as agressões entre as quatro linhas. “A punição contra
jogadores ou dirigentes, excluindo-os de competições, inibe a
violência. Contudo, a conscientização de que futebol é lazer e
fair play, e não uma guerra, é que mudará tudo. O atleta
amador tem que ter a mesma educação do profissional, que é o
respeito universal pelo próximo, seja ele um árbitro ou outro
atleta”, afirmou João Eduardo de Moraes, avaliador de árbitros da
Federação Paulista de Futebol (FPF), membro da diretoria do Safesp
(Sindicato dos Árbitros de São Paulo) e dirigente da Associação
Regional de Árbitros Esportivos (AREA), que coordena a campanha.
O
encontro, que foi presidido pelo vereador Tico Costa (SDD), é o
pontapé inicial em defesa dos árbitros e assistentes. Só em
Campinas, atuando no futebol amador, são cerca de 200. “Há
árbitros desistindo da função. Eles não sabem se vão apitar a
partida e voltar para casa com o olho roxo. As famílias pressionam
para que deixem os campos”, disse João Moraes. Segundo ele, um dos
fatores que premia os agressores, sejam esses atletas ou dirigentes,
é a falta de sinergia e interligação entre as ligas regionais:
“Uma pessoa é punida e eliminada de um torneio em Campinas e vai
jogar em Valinhos, ou vice-versa. Ou um time é eliminado e volta com
outro nome. Isso tem de acabar”.
Para
João Moraes, “o absurdo é haver uma certa aceitação à agressão
aos árbitros. Afinal, se um goleiro engole um frango, um técnico
substitui mal, um dirigente contrata errado ou um atacante perde um
gol feito, eles são espancados?” Para ele, o árbitro e factível
de erro: “ele pode errar, assim como jogador erra também, mas será
repreendido pela comissão de arbitragem e vai continuar a apitar,
vai passar por cursos de reciclagem, como um que começou nesta
segunda-feira em Campinas, e vai evoluir e aprender, melhorar”.
MUDAR
A MENTALIDADE
Já
para o presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de
São Paulo (Safesp), membro da Comissão de Arbitragem da Federação
Paulista de Futebol e diretor da Associação Nacional de Árbitros
de Futebol (ANAF) e da Cooperativa de Árbitros de Futebol do Estado
de São Paulo (Coafesp), Arthur Alves Júnior, só o fim da cultura
da violência gratuita é que mudará a atual realidade. “É
preciso que cada um tenha em mente a necessidade receber bem o outro
time, por que a presença da PM em todos os campos de futebol amador
é quase impossível por causa do número do efetivo.” Como exemplo
ele deu a última partida entre Corinthians e Palmeiras, no
Itaquerão, onde 470 homens da Polícia Militar fizeram a segurança.
“Eles custaram R$ 150 mil, extraídos do borderô da partida. Ou
seja, há um custo para ser ressarcido e os times amadores não podem
arcar com o custo. Mas eu já pedi ao governo do Estado que ao menos
haja uma ronda da PM nos campos de várzea em dia de jogo”,
enfatizou Arthur Júnior.
No
8º Campeonato de Futebol Amador, que terá rodadas amplas a partir
do dia 21 de setembro, o apoio da Guarda Municipal (GM) pode
acontecer como forma de minimizar o problema. Ao menos, essa foi a
possibilidade aventada no encontro de ontem entre o secretário
municipal de Esportes e Lazer, Oldemar Elias, o Professor Campos, e o
assessor técnico da Secretaria de Cooperação nos Assuntos de
Segurança Pública, Francisco Sellin. O torneio reunirá 32 equipes
na Série Ouro, 64 na Série Prata e mais 64 na Série Bronze. “É
preciso que nessa competição todos aprendam que se o time não
ganhou é por que não teve, naquele dia, competência para fazê-lo.
Que aceitem isso e não descontem no adversário ou no árbitro”,
explicou o Professor Campos, que prometeu a volta do campo do São
Bernardo, reformado, como “casa do futebol amador”.
HISTÓRIAS
DE FUTEBOL
No
encontro, jornalistas contaram histórias que mostram a necessidade
de se mudar a mentalidade de violência nos campos, em nome do
esporte. “Meu pai foi árbitro de futebol amador no Paraná. E o
fazia por amor ao futebol. Minha mãe cansava de pedir para ele, que
trabalhava numa olaria, largar isso. Contudo, ele dizia que tinha o
desejo de fazer justiça e, por isso, não deixaria de apitar. Um
dia, voltou para casa com um rasgo no peito, vítima de um jogador
que lhe deu uma voadora no peito. Ele morreu com aquela cicatriz, que
nunca mais saiu”, afirmou Carlos Batista, jornalista da TV e da
Rádio Bandeirantes. Para Batista, nada justifica a violência contra
os árbitros. “Hoje temos até 28 câmeras espalhadas no campo.
Logo, com tecnologia vê-se tudo. Mas há um dia em que o árbitro,
como todo o ser humano, pode acordar mal, estar com reflexos lentos e
erre num lance. Mas, pelo instantâneo da jogada, não é para se
crucificar a pessoa”, diz.
Já
para João Carlos Freitas, jornalista da Rádio CBN/Globo, o esporte
amador deve ter um enfoque na competição sem violência. De reunir
bairros e até focar rivalidades,
como ele lembrou existirem no passado nos torneios de Campinas, mesmo
entre equipes de um mesmo local. “Na minha infância frequentei
muito essas partidas de várzea com meu pai. Eram uma festa, existia
a rivalidade sadia. Logo, é preciso que não se deixe a violência
vencer o esporte”, explicou Freitas. Para exemplificar o que deve
nortear a competição, ele contou uma história sobre Ana Jacinta de
São José, conhecida como “Dona Beja”, e que viveu em Araxá
(MG), no início do século XIX. Invejada pelas senhoras do lugar,
por causa de sua beleza, um dia ela viu, defronte da porta da sua
casa, uma bandeja cheia de estrume. Mandou que a levassem para
dentro, a lavassem e colocassem rosas no lugar do estrume. Depois, a
devolveu à suas inimigas com um bilhete: “Cada um dá o que tem de
melhor”. Para Freitas, é isso que as equipes têm de fazer: dar o
melhor de si, e que esse melhor seja visando sempre o lado bom do
esporte.
DEBATE
DE IDEIAS
Ao
final do debate, algumas propostas foram levantadas: a maior
participação de representantes do futebol amador no Conselho
Municipal de Esportes e Lazer; a colocação de câmeras da Central
Integrada de Monitoramento de Campinas (CIMCamp) nas principais
praças de esportes do município (hoje são 36 os equipamentos
públicos); um sistema informatizado para a inscrição das equipes
na Secretaria de Esportes, que depois se integraria ao de outros
municípios da região; e a cessão de itens mínimos de manutenção
(como roçadeiras e mangueiras) para os campos não são parte dos
equipamentos ligados à Prefeitura.
Para
o vereador Tico Costa, que esteve na presidência do evento, a grande
presença de pessoas no plenário – cerca de 200 espectadores –
dá a dimensão do esporte amador na cidade. “Valeu por ver tantos
interessados na campanha e no renascimento do futebol amador. Mas, o
mais importante é aquilo que haveremos de conseguir daqui para a
frente. Que a reunião possa ser um espelho para o País na redução
da violência contra os árbitros e assistentes, além do fim da
insegurança nos estádios e campos de várzea. Que o futebol seja um
ato de união e lazer, para alegrar a todos. O Brasil, ficou provado
na última Copa do Mundo, tem de mudar o seu jeito de ver o esporte.
Aqui em Campinas, demos um passo importante”, afirmou Tico.
O
encontro teve ainda a presença do delegado de Polícia Civil Luis
Francisco Segantin Júnior; do presidente da Liga Campineira de
Futebol, Irdival Frezzato; do presidente da Associação Regional dos
Árbitros Esportivos, Valter Ferreira Mariano; e de José Ribeiro do
Prado Neto, diretor de Futebol Amador da Secretaria de Esportes e
Lazer, entre outros.
Fotos: Lucas Leite (Assessoria de Imprensa da Câmara de Campinas) e Assessoria de Imprensa do vereador Tico Costa
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