quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Tico dá o pontapé inicial para a campanha contra a agressão aos árbitros de futebol amador



O 8º Campeonato de Futebol Amador, patrocinado pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, que terá a sua abertura no dia 14 de setembro, no Estádio Moisés Lucarelli, quando haverá a disputa do troféu Luciano do Valle, será o tubo de ensaio para tentar se interromper a violência crescente contra a arbitragem. Ontem, num plenário lotado da Câmara Municipal, árbitros, assistentes, dirigentes e jogadores de futebol amador, além de jornalistas e autoridades, participaram do lançamento da campanha que visa minimizar as agressões entre as quatro linhas. “A punição contra jogadores ou dirigentes, excluindo-os de competições, inibe a violência. Contudo, a conscientização de que futebol é lazer e fair play, e não uma guerra, é que mudará tudo. O atleta amador tem que ter a mesma educação do profissional, que é o respeito universal pelo próximo, seja ele um árbitro ou outro atleta”, afirmou João Eduardo de Moraes, avaliador de árbitros da Federação Paulista de Futebol (FPF), membro da diretoria do Safesp (Sindicato dos Árbitros de São Paulo) e dirigente da Associação Regional de Árbitros Esportivos (AREA), que coordena a campanha.

O encontro, que foi presidido pelo vereador Tico Costa (SDD), é o pontapé inicial em defesa dos árbitros e assistentes. Só em Campinas, atuando no futebol amador, são cerca de 200. “Há árbitros desistindo da função. Eles não sabem se vão apitar a partida e voltar para casa com o olho roxo. As famílias pressionam para que deixem os campos”, disse João Moraes. Segundo ele, um dos fatores que premia os agressores, sejam esses atletas ou dirigentes, é a falta de sinergia e interligação entre as ligas regionais: “Uma pessoa é punida e eliminada de um torneio em Campinas e vai jogar em Valinhos, ou vice-versa. Ou um time é eliminado e volta com outro nome. Isso tem de acabar”.

Para João Moraes, “o absurdo é haver uma certa aceitação à agressão aos árbitros. Afinal, se um goleiro engole um frango, um técnico substitui mal, um dirigente contrata errado ou um atacante perde um gol feito, eles são espancados?” Para ele, o árbitro e factível de erro: “ele pode errar, assim como jogador erra também, mas será repreendido pela comissão de arbitragem e vai continuar a apitar, vai passar por cursos de reciclagem, como um que começou nesta segunda-feira em Campinas, e vai evoluir e aprender, melhorar”.


MUDAR A MENTALIDADE

Já para o presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo (Safesp), membro da Comissão de Arbitragem da Federação Paulista de Futebol e diretor da Associação Nacional de Árbitros de Futebol (ANAF) e da Cooperativa de Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo (Coafesp), Arthur Alves Júnior, só o fim da cultura da violência gratuita é que mudará a atual realidade. “É preciso que cada um tenha em mente a necessidade receber bem o outro time, por que a presença da PM em todos os campos de futebol amador é quase impossível por causa do número do efetivo.” Como exemplo ele deu a última partida entre Corinthians e Palmeiras, no Itaquerão, onde 470 homens da Polícia Militar fizeram a segurança. “Eles custaram R$ 150 mil, extraídos do borderô da partida. Ou seja, há um custo para ser ressarcido e os times amadores não podem arcar com o custo. Mas eu já pedi ao governo do Estado que ao menos haja uma ronda da PM nos campos de várzea em dia de jogo”, enfatizou Arthur Júnior.

No 8º Campeonato de Futebol Amador, que terá rodadas amplas a partir do dia 21 de setembro, o apoio da Guarda Municipal (GM) pode acontecer como forma de minimizar o problema. Ao menos, essa foi a possibilidade aventada no encontro de ontem entre o secretário municipal de Esportes e Lazer, Oldemar Elias, o Professor Campos, e o assessor técnico da Secretaria de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública, Francisco Sellin. O torneio reunirá 32 equipes na Série Ouro, 64 na Série Prata e mais 64 na Série Bronze. “É preciso que nessa competição todos aprendam que se o time não ganhou é por que não teve, naquele dia, competência para fazê-lo. Que aceitem isso e não descontem no adversário ou no árbitro”, explicou o Professor Campos, que prometeu a volta do campo do São Bernardo, reformado, como “casa do futebol amador”.

HISTÓRIAS DE FUTEBOL

No encontro, jornalistas contaram histórias que mostram a necessidade de se mudar a mentalidade de violência nos campos, em nome do esporte. “Meu pai foi árbitro de futebol amador no Paraná. E o fazia por amor ao futebol. Minha mãe cansava de pedir para ele, que trabalhava numa olaria, largar isso. Contudo, ele dizia que tinha o desejo de fazer justiça e, por isso, não deixaria de apitar. Um dia, voltou para casa com um rasgo no peito, vítima de um jogador que lhe deu uma voadora no peito. Ele morreu com aquela cicatriz, que nunca mais saiu”, afirmou Carlos Batista, jornalista da TV e da Rádio Bandeirantes. Para Batista, nada justifica a violência contra os árbitros. “Hoje temos até 28 câmeras espalhadas no campo. Logo, com tecnologia vê-se tudo. Mas há um dia em que o árbitro, como todo o ser humano, pode acordar mal, estar com reflexos lentos e erre num lance. Mas, pelo instantâneo da jogada, não é para se crucificar a pessoa”, diz.

Já para João Carlos Freitas, jornalista da Rádio CBN/Globo, o esporte amador deve ter um enfoque na competição sem violência. De reunir bairros e até focar rivalidades, como ele lembrou existirem no passado nos torneios de Campinas, mesmo entre equipes de um mesmo local. “Na minha infância frequentei muito essas partidas de várzea com meu pai. Eram uma festa, existia a rivalidade sadia. Logo, é preciso que não se deixe a violência vencer o esporte”, explicou Freitas. Para exemplificar o que deve nortear a competição, ele contou uma história sobre Ana Jacinta de São José, conhecida como “Dona Beja”, e que viveu em Araxá (MG), no início do século XIX. Invejada pelas senhoras do lugar, por causa de sua beleza, um dia ela viu, defronte da porta da sua casa, uma bandeja cheia de estrume. Mandou que a levassem para dentro, a lavassem e colocassem rosas no lugar do estrume. Depois, a devolveu à suas inimigas com um bilhete: “Cada um dá o que tem de melhor”. Para Freitas, é isso que as equipes têm de fazer: dar o melhor de si, e que esse melhor seja visando sempre o lado bom do esporte.


DEBATE DE IDEIAS

Ao final do debate, algumas propostas foram levantadas: a maior participação de representantes do futebol amador no Conselho Municipal de Esportes e Lazer; a colocação de câmeras da Central Integrada de Monitoramento de Campinas (CIMCamp) nas principais praças de esportes do município (hoje são 36 os equipamentos públicos); um sistema informatizado para a inscrição das equipes na Secretaria de Esportes, que depois se integraria ao de outros municípios da região; e a cessão de itens mínimos de manutenção (como roçadeiras e mangueiras) para os campos não são parte dos equipamentos ligados à Prefeitura.

Para o vereador Tico Costa, que esteve na presidência do evento, a grande presença de pessoas no plenário – cerca de 200 espectadores – dá a dimensão do esporte amador na cidade. “Valeu por ver tantos interessados na campanha e no renascimento do futebol amador. Mas, o mais importante é aquilo que haveremos de conseguir daqui para a frente. Que a reunião possa ser um espelho para o País na redução da violência contra os árbitros e assistentes, além do fim da insegurança nos estádios e campos de várzea. Que o futebol seja um ato de união e lazer, para alegrar a todos. O Brasil, ficou provado na última Copa do Mundo, tem de mudar o seu jeito de ver o esporte. Aqui em Campinas, demos um passo importante”, afirmou Tico.

O encontro teve ainda a presença do delegado de Polícia Civil Luis Francisco Segantin Júnior; do presidente da Liga Campineira de Futebol, Irdival Frezzato; do presidente da Associação Regional dos Árbitros Esportivos, Valter Ferreira Mariano; e de José Ribeiro do Prado Neto, diretor de Futebol Amador da Secretaria de Esportes e Lazer, entre outros.

Fotos: Lucas Leite (Assessoria de Imprensa da Câmara de Campinas) e Assessoria de Imprensa do vereador Tico Costa

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